Problemas para seguir a dieta: entenda as causas e como resolvê-las

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Sua própria mente pode estar te impedindo de seguir a dieta.

Saiba como você pode adquirir, naturalmente, controle sobre o que come e, enfim, emagrecer. 

Nos últimos tempos, algumas pessoas me procuraram se queixando de que não conseguiam ter controle sobre a sua alimentação e que sentiam fissura quase incontrolável por carboidratos.

Essas pessoas já tinham tentado diversas dietas, buscado orientação de profissionais especializados em emagrecimento e algumas já tinham tentado medicamentos inclusive. Mesmo assim, não obtiveram sucesso.

Então, elas tiveram o “insight” de que o problema era essencialmente emocional e comportamental. Não nutricional e hormonal.

Elas estavam certas.

De fato, recentemente, me dei conta de que tenho ajudado a resolver ou a melhorar significativamente este tipo de caso, utilizando apenas tratamentos naturais. Na maioria das vezes, até com facilidade e rapidez. Então, resolvi escrever este texto para explicar como tenho feito isso. Assim, poderei beneficiar pessoas que, talvez como você, tenham esta dificuldade de seguir a dieta e, por isso, acabam frustradas por nunca conseguirem atingir seus objetivos em relação a emagrecimento, saúde e bem estar.

Apesar de haver ótimos profissionais trabalhando com emagrecimento, falta para a grande maioria deles, o conhecimento e as ferramentas para lidar com a principal razão pela qual as pessoas não emagrecem: não conseguir aderir  a dieta recomendada.

A maioria dessas pessoas sente uma fissura quase irresistível por doces ou outros carboidratos simples. Muitas também relatam que usam a comida como forma de alívio para ansiedade ou mal estar emocional. A maioria delas  não chega a preencher critérios diagnósticos de nenhum transtorno alimentar, mas come exageradamente carboidratos, impedindo seu tão desejado emagrecimento. Outras chegam a desenvolver compulsão alimentar e, uma minoria, sofre de bulimia.

Reflita: a pessoa decidiu emagrecer, foi a um profissional para ser orientada sobre como fazer isso, causas hormonais do ganho de peso foram descartadas ou tratadas. Contudo, ela simplesmente não consegue seguir a dieta e assim atingir o seu objetivo de emagrecer.

Se identificou?

Neste caso, é claro que há um problema emocional e comportamental. Logo, já não é mais o endocrinologista ou o nutrólogo que devem ser capazes de ajudar e sim o psiquiatra e/ou o terapeuta.

Por quê estas pessoas, talvez como você, não conseguem agir de acordo com a sua decisão racional de seguir uma dieta?

Há algumas causas para isso e elas podem ser divididas didaticamente em psicológicas e biológicas.

Causas Psicológicas

1. Hábito

Muitos dizem que é apenas uma questão de hábito. Em alguns casos, eles estão certos.

Popularizado pelo livro “O Poder do Hábito” de Charles Duhigg, o ciclo do hábito consiste em gatilho, rotina e recompensa. O gatilho é o que nos faz ter vontade de comer aquela comida calórica (por exemplo, a ansiedade), a rotina é o que fazemos( comer um chocolate por exemplo) e a recompensa é o prazer que este chocolate nos gera.

Todos nós temos uma certa dificuldade de modificar os hábitos. No entanto, normalmente, somos capazes de fazer isso quando estamos muito motivados. Utilizamos a nossa força de vontade para superar os momentos difíceis e pronto. Quando isso é insuficiente, podemos usar algumas estratégias comportamentais como a de alterar a rotina. Então, por exemplo, em vez de comer o chocolate em resposta ao gatilho da ansiedade, poderíamos fazer uma atividade física ou comer uma maçã para obter a recompensa por meio disso. Aos poucos, enfraqueceríamos os maus hábitos e fortaleceríamos os bons.

Verdade. Inclusive, muitos que conseguem emagrecer facilmente fazem essa troca de rotina de maneira inconsciente e automática.

Por outro lado, há também os que não emagrecem simplesmente por ainda não terem tomado a decisão consciente de mudar os hábitos. Eles simplesmente descartam essa possibilidade, dizendo que é muito difícil mudar hábitos. Justificam também, afirmando que gostam muito de comer alimentos calóricos e que vão continuar assim. Talvez, estas pessoas não achem tão relevante cuidar da saúde ou da estética, talvez curtir o momento seja mais importante para elas. Tudo bem. Elas estão fazendo uma escolha consciente de continuar com sobrepeso e com todas as suas consequências negativas a médio e longo prazo para obter recompensas de curto prazo.

Entretanto, estou me dirigindo neste texto às pessoas que, de fato, querem mudar e que já tentaram seriamente usar a sua força de vontade bem como fazer mudanças de hábitos sem sucesso. Pessoas que, talvez como você, simplesmente não conseguem mudar a rotina, elas sentem que realmente precisam daquele chocolate por exemplo.

Por quê?

2. O subconsciente

Além da mente consciente, aquela que decide fazer a dieta, temos a mente subconsciente. A mente consciente está disposta a sacrificar a recompensa de curto prazo( prazer do chocolate) para obter a de médio prazo ( emagrecer, por exemplo). Já a mente subconsciente busca apenas recompensas de curto prazo. Outra função importante dela é a regulação das emoções.

Em termos mais atuais, poderíamos chamar a mente consciente de córtex pré frontal e a mente subconsciente de sistema límbico cerebral. É claro que todos nós temos as duas mentes. Faz parte da natureza humana este conflito entre a busca da recompensa mediata e da imediata.

O ideal é sabermos equilibrar a obtenção de ambas sem prejuízo dos nossos objetivos de médio e de longo prazo.

No entanto, quando há uma desregulação límbica(subconsciente), este equilíbrio é rompido. A pessoa já não consegue mais agir de maneira racional e acaba sendo dominada pelas suas emoções e por suas fissuras.

Do ponto de vista psicológico, traumas e emoções tóxicas como raiva, magoa e culpa são os principais motivos de desregulação do sistema límbico. Portanto, é necessário investigar e tratar de maneira eficaz essas questões se for o caso.

Outro fator que pode gerar esta desregulação límbica é o estresse. Dessa forma, também é necessário lançar mão de estratégias para reduzi-lo e lidar com ele.

Adiante, abordarei como pode ser feito o tratamento deste componente psicológico do problema.

Por ora, apenas perceba que, ao tratar as emoções e a desregulação límbica, estamos mirando no gatilho do ciclo do hábito. Bem diferente da estratégia apenas comportamental de mudar a rotina. O objetivo é fazer com que a pessoa já não tenha mais o gatilho da ansiedade por exemplo, eliminando a necessidade de utilizar algo externo que lhe dê prazer imediato(chocolate por exemplo) para aliviá-la.

Causas Biológicas

1. SNP MAO-A

SNP significa polimorfismo de nucleotídeo único. Isto é, uma mutação de apenas um nucleotídeo em um gene.  Todos nós temos SNPs e é isso o que gera toda a diversidade humana. No entanto, há SNPs que podem nos prejudicar de algumas formas.

O SNP MAO-A pode estar relacionado com a dificuldade de controle na ingestão de carboidratos bem como aumenta o risco de problemas emocionais em geral. MAO-A é um gene que codifica uma enzima responsável pela metabolização de serotonina no cérebro. Sendo assim, esta enzima reduz o nível de serotonina nas sinapses, promovendo o necessário equilíbrio dos níveis deste neurotransmissor. Em algumas pessoas, no entanto, esta enzima funciona rápido demais. Por isso, estas pessoas ficam com níveis menores de serotonina em suas sinapses.

Esta característica aumenta o risco de desenvolvimento de problemas emocionais em geral. Além disso, ela faz você sentir a necessidade de buscar o triptofano( precursor da serotonina) contido em alimentos altamente calóricos como o chocolate.   

Se você sente que sempre teve esse descontrole em relação aos carboidratos, é provável que você tenha esta alteração genética no gene MAO-A. Portanto, pode ser necessário usar uma estratégia para regularizar os níveis sinápticos de serotonina.

2. Desregulação límbica 

Além dos traumas, das emoções tóxicas, do estresse e do próprio SNP MAO-A, há diversos componentes biológicos que podem contribuir para a desregulação límbica, gerando ansiedade, melancolia e outra emoções negativas que podem servir como gatilhos para a rotina de comer alimentos calóricos em excesso.

Alguns exemplos são: excesso ou carência de certos minerais e vitaminas, distúrbios hormonais, problemas intestinais, intoxicações e outros SNPs como o do MTHFR.

Dessa maneira, é importante avaliar de forma abrangente a fisiologia particular de cada pessoa para evitar que algum destes fatores contribua para a desregulação do sistema límbico.

3. Fome e Saciedade

Há alguns hormônios que produzem a sensação de saciedade como a leptina e o peptídeo YY. Algumas pessoas podem desenvolver resistência a eles ou produzi-los insuficientemente. Isto não chega a ser considerado uma patologia, mas pode contribuir para o consumo exagerado de comida. 

Por outro lado, é importante lembrar que os carboidratos simples como doces, pães e massas, estimulam o pâncreas a gerar picos de insulina. Com isso, a glicose extraída das refeições é logo absorvida pelas células corporais. Isso provoca hipoglicemia  rapidamente que, por sua vez, estimula hormônios que sinalizam fome como a grelina. Além disso, estas comidas são capazes de estimular o centro do prazer no cérebro de maneira semelhante às drogas.

Resultado: quanto mais carboidratos simples você come, mais você tem vontade de comê-los.

Logo, é interessante usar estratégias biológicas que ajudem diretamente na redução do apetite e no aumento da saciedade.

Por fim, o estresse também é um fator que desregula os hormônios ligados a fome e a saciedade, pois eleva os níveis de cortisol. Por sua vez, este dispara a produção de insulina. Mais um motivo, então, para procurar reduzir os estressores e melhor lidar com os que são inevitáveis.

Ok, faz sentido, dirá o leitor ou a leitora. Mas, qual a solução?

Com certeza, você já percebeu que o problema tem uma certa complexidade. Dessa maneira, devemos abordá-lo em todos os seus aspectos se quisermos aumentar as chances de sucesso do tratamento.

Tratamento 

1. Hipnoterapia

É a terapia feita com o indivíduo em estado de hipnose. Hipnose é um estado de vigília no qual temos maior acesso ao nosso subconsciente, portanto às nossas emoções e ao nosso passado.  Por ter este acesso mais direto, esta terapia costuma ser mais eficiente e mais rápida que outras.

O objetivo é enfraquecer padrões subconscientes disfuncionais que costumam ser as causas das emoções negativas. Estas, por sua vez, funcionam como gatilho para o descontrole alimentar. A idéia, portanto, é eliminar os gatilhos emocionais ligados a compulsão e ao descontrole alimentar.

A técnica mais frequentemente associada com hipnose hoje em dia é a regressão. De fato, se bem utilizada, ela pode ser muito poderosa no tratamento de diversos problemas. Nada mais é do que ajudar a pessoa a revivenciar momentos negativos do passado e depois ajudá-la a revivenciá-los se sentindo bem ou, pelo menos, de forma neutra. Dessa maneira, é possível neutralizar ou reduzir os efeitos negativos destes eventos na mente e no comportamento da pessoa. Mudamos a programação subconsciente do indivíduo, trocando-a por uma mais saudável.

Com esta técnica somos capazes de fazer o que o famoso Sigmund Freud dizia ser o objetivo da psicoterapia: encontrar e ressignificar as causas subconscientes dos transtornos emocionais e comportamentais. Ele dizia também que as técnicas eficazes para isso ainda estavam por ser desenvolvidas. Felizmente, hoje nós as temos.

Na verdade, Freud acreditava que apenas a compreensão da causa do problema já seria suficiente para resolvê-lo. Nas sessões de hipnoterapia, vamos muito além disso. Nós removemos a emoção ligada ao evento durante a ressignificação.

Entretanto, por mais poderosa que seja a regressão, ela está longe de ser a única técnica relevante. Gestalt, PNL, terapia cognitiva e EMDR podem e devem ser usadas tanto para a dessensibilização dos eventos durante a regressão quanto de maneira isolada.

2. Controle do Estresse

Em primeiro lugar, devemos identificar todos os fatores que nos geram estresse. Depois, devemos separá-los em dois grupos: modificáveis e não modificáveis.

Então, devemos realizar mudanças práticas em nossas vidas para eliminar ou reduzir os que são modificáveis. Por exemplo, se a pessoa é autônoma e trabalha 12 horas por dia, ela pode encontrar maneiras de trabalhar 8 horas mesmo que isso signifique alguma perda financeira. Obviamente, se ela considerar que este é um fator gerador de estresse modificável.

Por outro lado, é claro que há, muitas vezes, estressores não modificáveis. Para que eles não afetem significativamente nem o nosso emocional nem o nosso balanço hormonal devemos dedicar um tempo a certas atividades que possam aliviar o estresse como por exemplo a meditação, a reza, o exercício da gratidão e do perdão, a conexão com a natureza, a prática de esportes, o contato com familiares e amigos que nos fazem bem.

Em alguns casos, a psicoterapia convencional também pode nos ajudar a mudar a percepção sobre a nossa realidade ou sobre o estressor não modificável. Muitas vezes, isso é suficiente para reduzir o impacto do mesmo sobre a nossa saúde física e mental, apesar de não termos feito nenhuma mudança objetiva.

Por fim, há alguns fitoterápicos conhecidos como adaptógenos que podem nos ajudar a regular o cortisol e a reduzir o impacto do estresse em nossa saúde física e mental.

3. Aumento dos Níveis de Serotonina nas Sinapses Cerebrais

A ingestão de aminoácidos precursores da serotonina é capaz de aumentar os níveis deste neurotransmissor no cérebro.

Conforme explicado acima, isso é importante pois muitas pessoas que sentem fissura por carboidratos têm déficit de serotonina nas sinapses devido ao SNP MAO-A.

Inclusive, alguns precursores de serotonina já foram testados em estudos clínicos bem feitos que comprovaram a sua eficácia para o emagrecimento e para o controle da alimentação.

No entanto, em geral, eles não devem ser usados em conjunto com os antidepressivos mais prescritos. Portanto, só utilize este suplemento sob orientação médica, especialmente se você estiver usando um antidepressivo.

4. Regulação do Sistema Límbico por meio de tratamentos biológicos 

Há outros desbalanços físicos que podem influenciar de forma decisiva a regulação do sistema límbico, contribuindo para os gatilhos do descontrole alimentar.

Então, por exemplo, se houver uma carência nutricional relevante para o emocional, ela deve ser corrigida. Outro exemplo, é tratar problemas intestinais que também podem contribuir para a desregulação límbica.

Enfim, há uma série de aspectos a serem considerados e o que quer que esteja desequilibrado deve ser tratado. Assim, também podemos reduzir os gatilhos emocionais que tanto atrapalham o controle sobre a alimentação.

4. Otimização da Saciedade e Redução do Apetite

Algumas fibras específicas têm efeito comprovado de aumento da sensação de saciedade. Estas fibras também ajudam na regulação da glicemia.

Elas formam uma camada no estômago que sinaliza a saciedade para o cérebro. Ademais, são capazes de lentificar a absorção dos alimentos, reduzindo os picos de insulina produzidos pelo pâncreas.

Isso ajuda muitas pessoas a terem menos apetite, a controlarem a alimentação, a regularem a glicemia e, portanto, a emagrecer.

Por fim, é necessário quebrar o ciclo gerado pelos carboidratos simples tanto por conta da sua ação deletéria na regulação da glicemia quanto devido a sua ação direta no sistema de recompensa cerebral.

Outro motivo para eliminar estes alimentos é o seguinte: pesquisas apontam que uma dieta baixa em carboidratos e rica em gorduras e proteínas de boa qualidade aumenta a produção do peptídeo YY, um dos hormônios da saciedade.

Óbvio que o problema é justamente que, muitas vezes, há um descontrole em relação a ingestão deste tipo de comida. Logo, não basta simplesmente recomendar evitar os carboidratos simples. No entanto, este descontrole não ocorre o tempo todo. Portanto, quando possível, é necessário evitar estes carboidratos, retirando-os inclusive do carrinho de supermercado. Eles devem ser deixados para ocasiões muito especiais ou para os momentos em que realmente há um descontrole.

Conclusão

Muitas vezes, a nossa própria mente nos impede de seguir a dieta e, assim, de atingir nossos objetivos em relação a emagrecimento, saúde e bem estar.

Todavia, é possível resolver ou melhorar significativamente a fissura por carboidratos, o descontrole  alimentar, a compulsão alimentar, e até a bulimia de maneira natural e eficaz.

Para isso, basta identificar os diversos aspectos do problema que, no seu caso, são relevantes e tratá-los de acordo.

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Clínica Ór Psiquiatria

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