
Estimulação Magnética Transcraniana para o Tratamento da Depressão
O tratamento da Depressão Maior com Estimulação Magnética Transcraniana( EMT) consiste em estimular uma área do cérebro com um campo eletromagnético, promovendo uma mudança no seu padrão elétrico de ativação.
Para tal, apoia-se um equipamento capaz de emitir o estímulo magnético na parte do crânio que corresponde à área do cérebro que se pretende modular.
Atualmente, o consenso é estimular a área do cérebro conhecida como Córtex Pré Frontal Dorsolateral( DLPFC). Esta parte do cérebro está localizada bem próxima ao crânio na região frontal do órgão. Ela é associada a funções cognitivas e a regulação emocional.
Na depressão, esta região do cérebro costuma estar menos ativa do que o ideal, enquanto que uma outra área do órgão, chamada giro do cíngulo anterior, está hiperativa. Ao menos em parte, é isto que promove o domínio das emoções negativas sobre o indivíduo em depressão, produzindo pensamentos e comportamentos disfuncionais.
O entendimento atual é que a estimulação magnética transcraniana ao DLPFC regula justamente esta disfunção. Dessa forma, na verdade, o DLPFC é apenas a janela pela qual entramos para conseguirmos regular áreas e circuitos cerebrais profundos que estão disfuncionais na depressão.
Eficácia
A EMT foi aprovada pelo FDA para o tratamento da depressão em 2008 e pela ANVISA em 2013.
Desde então, mais de 30 estudos clínicos para Depressão Maior foram realizados. Analisados em conjunto, os estudos apontam que este tipo de tratamento é 5x mais eficaz que o placebo. Num deles,por exemplo, foram incluídos 307 pacientes com Depressão Unipolar resistente ao tratamento farmacológico e a resposta ao tratamento foi identificada em 56% dos casos.
Gráfico – a linha cinza escura representa a redução dos sintomas depressivos dos pacientes que receberam o tratamento com EMT, enquanto a linha clara é a representação da manutenção dos sintomas de depressão dos pacientes que receberam placebo.
Segurança
Este método de tratamento é extremamente seguro, pois o estímulo é apenas focal e o paciente permanece consciente durante todo o procedimento. Dessa forma, o único efeito colateral que costuma ocorrer é um desconforto na região do crânio que recebe a estimulação. Mais raramente, pode haver dor de cabeça após a sessão.
Sendo assim, uma das grandes vantagens deste procedimento é a ausência dos efeitos colaterais tipicamente relacionados aos medicamentos antidepressivos.
Além disso, evite confundir a EMT com a eletroconvulsoterapia(ECT), também conhecida como “eletrochoque”. A ECT estimula todo o cérebro, gerando uma convulsão. Por isso, diferente da EMT, a ECT requer anestesia geral e pode causar prejuízo da memória.
Nesse contexto, é muito raro que haja contra indicações formais ao procedimento, sendo que a única é a presença de um implante coclear.
Indicação
Infelizmente, por volta de 40% das pessoas que sofrem de Depressão Maior Unipolar e 50% dos pacientes que sofrem de Depressão Bipolar, não respondem ao tratamento com medicamentos. Por isso, é extremamente necessário que alternativas de tratamento comprovadas cientificamente sejam oferecidas a este público.
Junto com a cetamina, a EMT é uma boa alternativa para pessoas que continuam com sintomas depressivos importantes apesar de já terem tentado se tratar adequadamente com antidepressivos.
Uma outra indicação é para pessoas que não toleram ou que, simplesmente, temem os efeitos adversos dos psicotrópicos.
Como fazemos a EMT em nossa clínica?
Na Clínica Ór, utilizamos um tipo de estímulo chamado Theta Burst(TBS). Esta forma de estimulação é mais parecida com o funcionamento elétrico fisiológico do cérebro, sendo comprovadamente tão segura e eficaz quanto a maneira mais tradicional conhecida como estimulação repetitiva de alta frequência.
Um estudo publicado no prestigiado Lancet em 2018 demonstrou que em 3 minutos de TBS, é possível obter resultados de eficácia e segurança iguais aos obtidos por 37 minutos da sessão tradicional de alta frequência, aumentando muito a produtividade do método. Inclusive, este estudo levou à aprovação do TBS ainda em 2018 pelos órgãos reguladores.
Nesse contexto, vale ressaltar que diversos estudos demonstraram que a eficácia da EMT é diretamente proporcional à quantidade de estímulos. No entanto, tradicionalmente, isso significava aumentar o tempo de tratamento com sessões diárias de EMT de 2 a 4 semanas( 10 a 20 sessões) para 6 a 8 semanas( 30 a 40 sessões).
Sabemos, entretanto, que a maioria dos pacientes com depressão grave e resistente ao tratamento convencional não estão dispostos a visitar uma clínica diariamente por tanto tempo para, enfim, perceber o alívio dos sintomas. 4 semanas já costumavam gerar problemas de adesão, imagine 6 a 8 semanas.
Por conta disso, infelizmente, é bem comum recebermos pacientes que já se submeteram a 10 sessões( 2 semanas) de EMT, não obtiveram resposta e foram considerados refratários a este tipo de neuromodulação. Todavia, os dados de literatura apontam não ser surpresa a ausência de resposta a tão poucos estímulos. Assim, na verdade, boa parte desses pacientes poderia responder caso tivessem recebido a quantidade necessária de estímulos.
O foco da nossa clínica é a eficácia do tratamento, visando o rápido alívio de sintomas como desânimo, desesperança, desinteresse, angústia e ansiedade. Por isso, vimos no Theta Burst uma oportunidade de estimular muito mais em bem menos tempo.
Para isso, nos baseamos no protocolo SAINT, acrônimo que significa Terapia de Neuromodulação Acelerada e Inteligente de Stanford, cuja eficácia e segurança foi comprovada por estudos clínicos publicados em revistas internacionais de primeira linha.
Uma das características marcantes deste método de neuromodulação é a de preconizar o equivalente a 150 sessões tradicionais de EMT em apenas uma semana.
Considerando que a maioria dos pacientes acaba fazendo de 10 a 20 sessões (2 a 4 semanas) de tratamento, podemos considerar que fazemos entre 7,5 e 15x mais estímulos com o SAINT do que o que costuma ser feito com o protocolo tradicional.
Isso pode fazer toda a diferença.
Em nossa clínica, costumamos realizar o mesmo número de estímulos Theta Burst preconizados no SAINT em um período de duas semanas.
Conclusão
A Estimulação Magnética Transcraniana consiste em uma alternativa de tratamento para Depressão Maior comprovadamente eficaz, extremamente segura e bem tolerada.
Assim como a cetamina, ela deve ser considerada principalmente em casos de depressão resistente ao tratamento convencional e/ou para pacientes que não toleram os efeitos adversos dos medicamentos.